
Como os candidatos ao governo de Goiás se apresentam nos programas de TV e redes
Seja no horário eleitoral gratuito da TV, seja nas redes sociais, os candidatos ao governo de Goiás tentam se mostrar aos eleitores apresentando propostas, falando sobre suas carreiras e posturas ou atacando diretamente ou não os adversários. O Tem Base? – seção de checagem de fatos (fact-checking) do POPULAR – analisou algumas declarações expostas por seis governadoriáveis. Muitas das afirmações, conforme o leitor pode conferir, não são exatamente como os candidatos apresentaram.

Daniel Vilela
(MDB)
Encaminhamento de verbas
"Destinei durante um ano e meio toda a verba indenizatória para que pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) fizessem um amplo estudo que resultou no livro “Políticas Públicas em Goiás – Diagnóstico, Avaliação e Propostas”, que foi publicado em 2015 e distribuído gratuitamente a diversas instituições de Goiás.” Trecho extraído do site oficial do candidato
Durante 14 meses, entre junho de 2013 e agosto de 2014, dentre os gastos da verba indenizatória do então deputado estadual Daniel Vilela, consta o valor mensal de R$ 17 mil direcionados à Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape), que foi quem captou os recursos para a pesquisa da UFG. Durante o período, que não chega a um ano e meio, o deputado continua tendo, no entanto, outros gastos, como trabalhos técnicos, locação de imóveis, serviços postais, combustíveis, consultorias, dentre outros.
A assessoria de Daniel afirmou que a informação pode estar imprecisa no site do candidato, mas que isso “em nada diminui os méritos da iniciativa, que deveria ser seguida por outros parlamentares”. Em nota, a assessoria disse também que o gabinete obviamente tem outras despesas imprescindíveis para o exercício da atividade parlamentar que consumiram uma parte menor da verba.
Mais jovem da CCJ
"É o mais jovem parlamentar a ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, a mais importante do Congresso.” Trecho de vídeo divulgado no horário eleitoral gratuito da TV
Daniel Vilela se tornou presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em março do ano passado, quando tinha 33 anos. Antes dele, no entanto, o deputado federal Leonardo Picciani (MDB/RJ) foi presidente da mesma comissão em 2007 quando tinha 27 anos. Daniel é o segundo mais jovem a ocupar a presidência da CCJ.
Em resposta, a assessoria do candidato disse que Daniel, em seu primeiro mandato como deputado federal, foi escolhido para presidir a CCJ, e que “se outro deputado assumiu a CCJ com idade menor, isso é irrelevante”. “Provavelmente pode ter ocorrido um equívoco na redação do programa. Daniel Vilela especificamente não fez esta colocação de própria voz”, disse em nota.

José Eliton
(PSDB)
Geração de empregos em Goiás
Goiás é o 2º maior gerador de emprego.” Trecho de vídeo divulgado no horário eleitoral gratuito na TV e disponível no perfil do Facebook do candidato
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostra que Goiás ficou em 2º em geração de emprego em 2017, atrás de Santa Catarina. Entretanto, dados mais recentes, de janeiro a julho deste ano, mostram que Goiás está em 3º no ranking, com um saldo positivo de 37,1 mil empregos, atrás de SP (158,5 mil) e de MG (102,8 mil). A informação divulgada na propaganda de TV pelo candidato contradiz informação em sua conta oficial do Twitter, nos dias 29 e 30 de agosto, quando diz que Goiás é “campeão” e “líder” em geração de emprego.
Em resposta, a assessoria do candidato argumentou ser preciso aguardar o fim do ano para ter os dados mais atualizados, dando a entender não ser possível usar os números só dos meses de janeiro a julho. E justificou ser necessário comparar proporcionalmente o número de empregos gerados por um Estado com o respectivo PIB.
Ações na segurança pública
O Entorno do DF sempre foi um ponto de atenção e, por isso, quando secretário de segurança pública, estabelecemos a Rotam local, ações de repressão ao crime organizado e praticamente dobramos o efetivo na região.” Texto compartilhado no dia 31 de agosto na conta do candidato no Instagram
Uma companhia da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) da Polícia Militar foi instalada, segundo a assessoria da própria PM, no dia 17 de julho de 2017 no Entorno do Distrito Federal (DF), cerca de cinco meses depois de José Eliton deixar a titularidade da então Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP). Ele foi anunciado para o cargo em fevereiro de 2016 e permaneceu nele até o final de fevereiro de 2017, quando foi sucedido por Ricardo Balestreri.
A assessoria do candidato informou que a criação do Batalhão da Rotam em Luziânia foi decidida e anunciada em 6 de junho de 2016 e que para sua instalação foram necessárias “formação dos policiais militares, aquisição de equipamentos/armamentos, aumento da frota com veículos especiais, além de adequações nas instalações físicas, demandando quase 12 meses de preparo”. “Todo este processo foi coordenado por José Eliton, na época vice-governador, e pelo então secretário Edson Costa (Segurança).”
Já sobre o efetivo, a reportagem pediu os dados para a PM-GO, que alegou que os dados são sigilosos, resguardados pela portaria 0750/2016. Assim, não é possível confirmar se a informação repassada pelo candidato é verdadeira ou não. Procurada, a assessoria do candidato não repassou os números e informou que o efetivo policial em batalhões não é divulgado por questões estratégicas.
Em relação ao trecho em que fala de “ações de repressão ao crime organizado”, por se tratar de uma informação vaga, não foi checada pela reportagem.

Kátia Maria
(PT)
Violência contra a mulher
E sobre educação, é preciso conscientizar as pessoas a respeito da violência contra a mulher. Goiás é o 2º estado em feminicídio. Precisamos mudar esse dado por meio da educação.” Publicado na conta da candidata no Twitter
Os índices de feminicídio variam conforme o estudo feito e a origem dos dados. Alguns levantamentos consideram registros policiais, enquanto outros levam em conta o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Além disso, há diferença entre números de homicídios de mulheres e feminicídios porque em poucos casos a polícia ou a Justiça enquadra o assassinato dentro da Lei do Feminicídio (lei federal 13.104, de 2015). Autoridades apontam uma subnotificação do registro de feminicídio nos Estados.
Informações publicadas no Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que mostra Goiás em 3º no ranking dos Estados brasileiros que registraram mais homicídios de mulheres em 2016. Este levantamento mostra que a taxa goiana foi de 7,1 mortes por 100 mil mulheres. O Pará ficou em 2º, com uma taxa de 7,2. Entretanto, o Panorama da Violência Contra as Mulheres no Brasil, publicado pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal no início de 2017, mostra Goiás em 2º entre os Estados com mais registros de homicídios de mulheres, com dados relativos a 2014. O levantamento aponta que o Estado registrou taxa de 8,4 mortes por 100 mil mulheres, ficando atrás apenas de Roraima, que teve taxa de 9,5. Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018 coloca Goiás na 11ª posição na taxa de homicídios de mulheres (5,8) e em 19º quando se considera apenas os casos registrados como feminicídios (0,9), considerando registros policiais de 2017.
A candidata disse, por nota, que interpretou os dados Atlas da Violência 2018 como empate técnico entre Goiás e Pará, por causa da diferença de 0,1%.
Taxa de desemprego no Brasil
Saímos de 6% de desempregados no final do governo do PT para 12% no governo Temer. As pessoas estão perdendo a esperança.” Publicado na conta da candidata no Twitter
A taxa de desemprego em maio de 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada do cargo após o Senado aprovar a abertura do processo de impeachment, estava em 11,2%, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C). São os dados considerados oficiais sobre desemprego no Brasil. Os dados mais recentes – referentes ao mês de julho de 2018 – mostram que a taxa de desemprego se encontra em 12,3%.
Quanto à taxa desempregados, a candidata informou, por nota, que se referiu ao último mandato completo do PT, em 2014, quando a taxa de desocupação era de 6,5%.

Marcelo Lira*
(PCB)
Demissões na Enel
A Enel ao assumir demitiu mais de 1 mil servidores desta empresa.” Trecho de vídeo com Marcelo Lira em audiência pública organizada pela Aneel no dia 23 de agosto e publicada no mesmo dia na página do PCB de Goiás no Facebook.
De acordo com João Maria de Oliveira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG), 350 funcionários da Celg Distribuição foram demitidos após a elétrica italiana Enel assumir a gestão. Ainda segundo João Maria, 950 pessoas saíram da empresa por meio do plano de demissão voluntária apresentado pelos novos donos.
Em nota, a Enel informou que não houve demissão de mais de mil servidores, como foi declarado pelo candidato. De acordo com a empresa, quando assumiu a gestão da Celg-D, em fevereiro de 2017, a Enel realizou um programa de aposentadoria incentivada e outro de desligamento voluntário, voltados a colaboradores interessados em se desligar espontaneamente da companhia. A Enel registrou 800 adesões aos programas. Em nota, a empresa ainda acrescentou que “é natural ocorrer ajustes pontuais em seu quadro de funcionários, como em qualquer companhia privada”. Porém, não informou a quantidade de demissões.
Por nota, o candidato argumentou que o plano de demissão voluntária “constitui-se numa forma de coação com vista a auto demissão de trabalhadores”.
Críticas ao judiciário e legislativo
O Judiciário e o Parlamento golpistas do Brasil são uma tragédia... o primeiro demorou mais de duas décadas para julgar o histórico corrupto Paulo Maluf... e o segundo deu a Paulo Maluf a oportunidade de renunciar...” Publicado na conta do candidato no Twitter
A afirmação do candidato é verdadeira. O ex-deputado federal Paulo Maluf (PP/SP) foi condenado, em maio de 2017, pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 7 anos, 9 meses e 10 dias pelo crime de lavagem de dinheiro desviado de obras quando foi prefeito de São Paulo entre 1993 e 1996. A diferença entre os anos em que os crimes foram praticados e a condenação é de mais de 20 anos.
Quanto à possibilidade de Maluf renunciar, a mesa diretora da Câmara dos Deputados determinou a perda de mandato do parlamentar no dia 22 de agosto deste ano, em acordo com a determinação do STF. A decisão não cabe recurso. Entretanto, a medida foi adiada três vezes ao longo do mês de agosto.
Na época, o primeiro suplente da Mesa, deputado Dagoberto Nogueira (PDT-MS), explicou que existia a possibilidade de Maluf renunciar ao mandato nos próximos dias e por isso, a decisão sobre cassação foi adiada. Diante da decisão, o corregedor da Câmara, deputado Evandro Gussi (PV-SP), ressaltou que o adiamento da decisão atende a uma questão técnica de economia processual.
*com horário reduzido na TV, o candidato também aparece se manifestando pouco nas redes sociais, sejam próprias ou do partido pelo qual é candidato

Ronaldo Caiado
(DEM)
Emendas acompanhadas pela CGU
Toda emenda ao orçamento da união proposta por mim é encaminhada à controladoria geral da União. Com isso, peço que a execução da minha emenda seja observada e auditada para garantir que não haja qualquer irregularidade em todo o processo.” Trecho de biografia na conta do Facebook do candidato
Conforme informações do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), o senador e candidato de fato fez diversas solicitações de acompanhamento da execução de emendas orçamentárias ao longo de seu último mandato como senador (entre 2015 e 2018). No entanto, não foram solicitadas fiscalizações para as emendas ao orçamento deste ano, que totalizam 10 e somam R$ 50.568.845,00.
Procurada, a assessoria do candidato respondeu que em 2018, devido às possíveis alterações de beneficiários das emendas parlamentares do senador, os ofícios à CGU serão protocolados até outubro (deste ano), quando deverão sair as respectivas confirmações e empenhos destes recursos.
O custo da água e da energia
Goiás está cansado de pagar uma das taxas de água e energia mais caras do país.” Trecho de vídeo divulgado no horário eleitoral gratuito da TV
Energia: Conforme ranking das tarifas residenciais de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre 92 empresas, Goiás (que no ranking ainda consta como distribuidora a Celg D) está em 69º lugar. Assim, a tarifa não está entre as mais caras do país. A revisão tarifária deve acontecer em outubro deste ano.
Água: O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), vinculado ao Ministério das Cidades, divulgou no início deste ano dados referentes a 2016 que mostraram que a tarifa média de água em Goiás é a terceira mais cara do país, atrás de Alagoas e Rio Grande do Sul. Já a tarifa média praticada, que é um cálculo que envolve a tarifa média de água e esgoto, Goiás está em primeiro lugar, com um valor de R$ 5,02 por mil litros d’água.
Em resposta ao Tem Base?, a assessoria do candidato não falou sobre os questionamentos relativos à afirmação de ser a tarifa mais cara do país, dizendo apenas que o candidato reafirma que a Celg-D é a pior distribuidora de energia elétrica do País, o que é verdade, conforme ranking da Aneel.

Weslei Garcia
(PSOL)
Acusações contra candidatos
Em Goiás iremos enfrentar o coronelismo e candidaturas envolvidas com trabalho escravo e toda sorte de corrupção como Marconi, Caiado e o petismo em seu mais profundo oportunismo.” Publicado na conta do candidato no Facebook
Não existem registros no Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região de ligação de Marconi Perillo, Ronaldo Caiado ou filiados ao PT em Goiás com o trabalho escravo. Os políticos citados não estão na “lista-suja” de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão do Ministério do Trabalho.
Sobre os casos de corrupção, a 8ª Vara Criminal de Goiânia aceitou, no dia 6 de agosto, denúncia contra Marconi por envolvimento em irregularidades investigadas na Operação Monte Carlo. Já sobre o PT, o ex-tesoureiro do partido, o goiano Delúbio Soares foi condenado na Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro e no processo do mensalão, em 2012, por corrupção ativa. Não existem processos na Justiça que indiquem ligação de Caiado com esquemas de corrupção.
O coronelismo foi caracterizado pelo controle da máquina pública e de eleitores por um grupo reduzido de pessoas em um período da história brasileira e hoje a expressão é usada como acusação. Assim, o “Tem base?” avaliou que não é algo checável por se tratar de opinião.
Em nota, Weslei citou doações de empresas investigadas pela Operação Lava Jato para a campanha de Caiado de 2014, mas não existem informações sobre as doações ao candidato estarem ligadas a esquemas de corrupção. Quanto ao trabalho escravo, Weslei disse se referir a empresas registradas na lista-suja do Ministério do Trabalho que financiaram “várias campanhas” entre 2002 e 2014, mas não especificou nomes nem valores.
Programa de governo
Nosso programa de governo se baseará em seis eixos temáticos: Segurança Pública e Direitos Humanos, Educação, Saúde, Moradia, Meio Ambiente e Combate ás privatizações e corrupção.” Trecho de vídeo publicado na conta do candidato no Facebook
O programa de governo apresentado pelo candidato ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui 11 eixos que receberam os seguintes nomes: Juventude Negra; Uma Questão de Gênero; Saúde; Combate à Corrupção; Transportes Públicos; Educação Pública; Cultura e Esportes; Assistência Social; Participação Popular; Habitação; Segurança Pública; e Combate à Desigualdade Social e Reforma Agrária. Nenhum destes tópicos se refere a Meio Ambiente e, ao contrário do que é citado no vídeo, combate às privatizações não aparece como título de tópico.
Em resposta, o candidato informou que seu programa de governo realmente é estruturado em 11 pontos centrais, mas a equipe preferiu sintetizar as propostas em seis porque o tempo do partido na propaganda eleitoral da televisão é curto, apenas 12 segundos.