Tem base - Conteúdo 14 - pós eleições

Senadores e governador eleitos por Goiás erram em declarações pós-eleição

O Tem base? checou as declarações de Ronaldo Caiado (DEM), Vanderlan Cardoso (PP) e Jorge Kajuru (PRP) após a vitória eleitoral no dia 7 de outubro, seja em suas redes sociais ou em entrevistas para a imprensa. Confira:

Ronaldo Caiado

(DEM)
Vitória em 1º turno
Neste momento, chegando ao governo do Estado (vencendo) no primeiro turno - o que é histórico, já que a última eleição (em que isso) ocorreu (foi) em 1990.”

Frase dita em coletiva após o resultado do 1º turno, no dia 7 de outubro
A última vez que um candidato ao governo do Estado venceu em um 1º turno foi em 2002, quando o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) se candidatou para reeleição e obteve 51,2% dos votos válidos. O ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (MDB), ficou em segundo lugar com 32,8% dos votos.

A assessoria do governador eleito não contestou a correção trazida pela reportagem e disse entender que não muda o contexto da informação dita por Caiado
Déficit nas contas do Estado
 "(...) (O Estado) já está com déficit de mais de R$ 430 milhões, até 30 de agosto." 

Afirmação feita em entrevista ao POPULAR no dia 8 de outubro
Conforme informações da Secretaria da Fazenda, com base em informações do site da transparência de Goiás, o déficit orçamentário do Estado até agosto deste ano era de R$ 1.176.540.301,45. Assim, o senador e governador eleito citou, na verdade, um dado abaixo do real.

A assessoria do governador eleito não contestou a correção trazida pela reportagem. A equipe disse entender que o dado correto não muda o contexto da informação dita por Caiado, mas sim o reforça

Vanderlan Cardoso

(PP)
Salário X gastos eleitorais
O salário (de senador), ele não é lá essas coisas que dá pra tirar retorno.”

Frase dita em entrevista transmitida ao vivo no Facebook do POPULAR no dia 9 de outubro
O salário de um senador é R$ 33.763. Anualmente, isso significa R$ 405.156, o que ao final de oito anos, prazo do mandato, chega a R$ 3.241.248, caso não haja reajustes. A quantia é quase cinco vezes o valor desembolsado por Vanderlan Cardoso para custear sua campanha em 2018, que foi R$ 670 mil. 

Além do salário, o cargo dá direito a auxílio-moradia, no valor de R$ 5,5 mil mensais, e uma cota para atividade parlamentar no valor de R$ 15 mil. Assim, um senador não precisa pagar aluguel ou custear gastos com, por exemplo, combustível, locomoção ou alimentação. Os senadores têm, ainda, verba de transporte aéreo, que varia conforme o Estado. No caso de Goiás, cada senador tem R$ 6.045,20 mensais.

Em resposta enviada por sua assessoria, Vanderlan disse que o salário dos políticos é muito maior do que o da maioria da população, mas que ainda assim não costuma pagar o que o político, ou o partido, gasta para se eleger. “Quando digo que não dá para tirar retorno, estou falando em âmbito geral, considerando não apenas a minha campanha. É que, no meu caso há uma exceção, pois em minhas campanhas não costumo gastar quantias exorbitantes, embora ainda ache que deveria ser gasto bem menos. Mas, quando me disponho a entrar para a política faço isso para servir ao povo e não para recuperar o dinheiro investido”, afirmou em nota.
Evolução do PIB 
Eu sou da região oeste (de Goiás), eu nasci na cidade de Iporá. Há cerca de 20, 25 anos atrás, era o terceiro de participação do PIB do Estado de Goiás. Hoje, eu acho que é o penúltimo”

Frase dita em entrevista transmitida ao vivo no Facebook do POPULAR no dia 9 de outubro
A primeira estimativa de Produto Interno Bruto (PIB) por município foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1999. Naquele ano, Iporá aparecia na 55ª posição em Goiás. O último dado disponível pelo IBGE, de 2015, mostra Iporá na 51ª posição. Goiás tem 246 municípios.

Em nota enviada por sua equipe, o senador eleito disse que não estava falando do município, mas sim da região Oeste do Estado. 

Nos levantamentos feitos pelo IBGE de PIB dos municípios, Iporá está inserida no Centro goiano, região que ocupou 1º lugar com maior PIB do Estado em 1999, e manteve posição em 2015. 

O Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra) possui uma divisão maior, com dados por microrregião, mas somente a partir de 2002. Observando naquele ano, no Estado, dividido em 18 microrregiões, a região de Iporá ficou em antepenúltimo lugar. Em 2015, caiu para último lugar. 

O Instituto Mauro Borges (IMB) de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos realiza uma divisão também por 10 regiões de planejamento de Goiás. Neste caso, o instituto também possui dados somente a partir de 2002. Naquele ano, a região de planejamento (RP) Oeste ficou em penúltimo lugar na lista, e manteve posição em 2015.

Assim, em nenhuma das circunstâncias os dados estão próximos do que foi informado pelo senador eleito.

Jorge Kajuru

(PRP)
Denúncia contra Marconi Perillo
Fui eu quem o elegeu (Vanderlan Cardoso, que disputou vaga no Senado por Goiás neste ano e ficou em primeiro, na frente de Kajuru), quando denunciei Marconi Perillo.”

Em entrevista ao POPULAR, logo após o resultado das eleições.
A Operação Cash Delivery, que resultou na prisão do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), usou como base, dentre outros elementos, informações obtidas em delações premiadas de executivos da Odebrecht. Foram utilizadas ainda informações colhidas nas 23ª e 26ª fases da Operação Lava Jato, as operações Acarajé e Xepa. Não existe na investigação referência ao senador eleito Jorge Kajuru. Nesta operação, Marconi é apontado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal como líder de uma organização criminosa que teria aceitado propina em troca de favores para a empreiteira Odebrecht em 2010 e 2014. 

A denúncia foi feita poucos dias antes das eleições. Até então, nas pesquisas Serpes/O Popular, o cenário do Senado estava "embolado", com Marconi, e Kajuru, Lúcia Vânia e Vanderlan na disputa por uma pequena diferença. Na pesquisa estimulada (em que se apresenta a cartela ao eleitor com nomes dos candidatos) divulgada no dia 30 de setembro, por exemplo, Marconi ainda aparecia em primeiro lugar. Na espontânea, ele estava em segundo, e Kajuru em primeiro.

Na última pesquisa Serpes, divulgada no dia da eleição e nove dias após a operação, Marconi já apareceu em quarto lugar na pesquisa.

Procurado pelo Tem base?, Kajuru justificou à reportagem que estava se referindo às denúncias realizadas ao longo da campanha, em suas propagandas eleitorais. “Não foi a denúncia da Odebrecht. A denúncia da Odebrecht foi feita pelo Ministério Público Federal. Eu falei que as denúncias que eu fiz, desde o começo da campanha. Porque todo dia eu fazia, no horário eleitoral. Ele (Vanderlan) se aproveitou delas e virou a única outra opção antimarconista”, disse.

Durante a entrevista ao POPULAR no último dia 7, no entanto, Kajuru diz: “essa última denúncia (Cash Delivery), que levou gente pra cadeia - e que pode levar o Marconi a cadeia-, esta denúncia realmente é minha. A única coisa que o Marconi tem razão... É verdade quando ele fala que essa denúncia é do Kajuru com o amigo dele, o procurador. É verdade. A denúncia é minha, só que eu entreguei para o procurador”, disse, se referindo ao procurador Hélio Telho.
Eleição de vereador para o Senado
(Kajuru é o) Primeiro vereador da história que vira senador federal.”

Publicação feita no perfil oficial do Facebook do senador eleito. 
Neste ano, dentre os 54 eleitos, além de Kajuru, outro vereador conseguiu uma vaga no Senado Federal. Plínio Valério (PSDB), agora eleito senador, conseguiu vaga na Câmara dos Vereadores de Manaus em 2012, e foi reeleito em 2016. 

Observando os que ocuparam o Senado Federal de 2003 para cá, é possível encontrar outros três ex-senadores eleitos para o cargo quando ainda ocupavam cadeiras em câmaras municipais. 

Jefferson Peres (PDT-AM), falecido em 2008, foi vereador em Manaus de 1988 a 1994, sendo que no ano seguinte foi para o Senado Federal, onde ficou até sua morte. O outro caso é de Ana Júlia Carepa (PCdoB-PA), que foi a vereadora de Belém mais bem votada na disputa de 2000. Ela ficou na Câmara dos Vereadores da capital paraense até 2002, tendo sido eleita senadora pelo Estado em 2003. Antes disso ela já havia sido vereadora em Belém, eleita em 1992, vice-prefeita da cidade e deputada federal. 

O terceiro caso encontrado é o de Eduardo Suplicy, vereador por São Paulo de 1989 a 1990, quando foi eleito senador, cargo que ocupou por três mandatos consecutivos. Ele foi eleito novamente vereador pela capital paulista em 2016, e neste ano tentou o cargo para senador, mas não obteve êxito.

Em resposta, Kajuru afirmou que o que disse é que foi o 1º vereador da história do Brasil com apenas um ano e meio de mandato e que foi eleito mais de 1,5 milhão de votos. Não é esta frase, no entanto, que consta na publicação feita no Facebook do vereador.
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